Hidra

Hirosuke Kitamura

Algo em surdina surge a cada momento. Fantasmas entre o sexo e a morte, pedaços de sedução que divagam entre mundos perdidos.
A sexualidade é transparente, fugidia, e se esfumaça debaixo de nossos dedos. Como definir essa sexualidade em lugar onde o corpo é tudo, material e consumível? E aqui ela se torna fantasmagórica. Como nos contos japoneses de sempre, existe um outro mundo, mas ele está aqui junto a nós. Estas imagens se tornam passagem de tempo, imateriais, fora de qualquer época.
O interessante na criação, na arte, fica na individualidade reafirmada de cada um. Isto está cada vez mais difícil em um mundo dominado por propaganda, publicidade, marketing. Cada vez menos aparece o retrato daqueles que criam através de sua obra. Tudo é business, nada é pessoal. Aqui, no que é visto, tudo é pessoal, vivido e sentido. Tudo é pessoal. São diferenças essenciais onde hoje a imagem fotográfica se torna cada vez mais tecnicamente distante do que é mostrado.
Mas em arte o que têm de ser mostrado é a alma e não o tema. Aqui o os temas se diluem e mestiçam. Não ficamos presos a um lugar ou um momento no tempo, passamos para outra fase. Uma fase que nos faz ir para outro espaço, um outro mundo, um limbo.
Porém no fundo aparecem peles, dedos, seios, sexos, roupas que se transformam em máscaras, oferendas, luzes e suores baianos mostrados por um japonês que um dia chegou em Salvador.

Miguel Rio Branco

Nascido em Osaka, Japão em 1967, Hirosuke Kitamura se formou em Letras pela Universidade de Estudos Estrangeiros de Kyoto e veio ao Brasil em 1990 como estagiário de intercâmbio. Em 1993 começou a estudar processos contemporâneos, pintura e desenho de observação no Museu de Arte Moderna de Salvador e em 1995 fez curso intensivo de fotografia, quando iniciou seu trabalho como fotógrafo independente. Tornou-se então correspondente da revista de música Latina, que circula mensalmente no Japão, realizando fotos e escrevendo textos sobre eventos musicais de todo o Brasil. Vive em Salvador.

PT