Ex Mundus Novus

Alex Webb

Introdução a The Suffering of Light [O sofrimento da luz]

As cores são a ação e o sofrimento da luz.

Johann Wolfgang von Goethe

Só sei abordar um lugar caminhando. Afinal, o que faz um fotógrafo senão caminhar, observar, esperar, conversar, e depois observar e esperar mais um pouco, acreditando no imprevisto, no desconhecido e no segredo do conhecido que aguardam ali na esquina?      

Alex Webb, em Under A Grudging Sun [Sob um sol relutante]

Em 1975, atingi uma espécie de impasse em meu trabalho com a fotografia. Eu fotografava em preto e branco, meu recurso preferido na época, e fazia retratos da paisagem social estadunidense na Nova Inglaterra e na região de Nova Iorque — estacionamentos desertos habitados por figuras humanas esquivas, crianças aparentemente esquecidas presas nos bancos dos carros e cachorros desmazelados nas ruas. As fotografias eram um pouco alienadas, às vezes irônicas, eventualmente divertidas, talvez um tanto surreais e emocionalmente frias. Tive a sensação de que este trabalho não me levava a nenhum lugar novo. Eu parecia explorar o terreno que outros fotógrafos – como Lee Friedlander e Charles Harbutt – já haviam descoberto. Foi então que li o romance Os Comediantes de Graham Greene, que se passa no turbulento cenário do Haiti de Papa Doc, e conheci um mundo que era para mim fascinante e assustador. Dentro de alguns meses, peguei um avião e fui para Porto Príncipe. 

As primeiras três semanas que passei no Haiti acabaram me transformando — como fotógrafo e como ser humano também. Fotografei um mundo que jamais havia vivenciado antes, um mundo emocionalmente vibrante e intenso: bruto, desajustado e trágico. Comecei a explorar outros lugares — no Caribe, ao longo da fronteira dos Estados Unidos com o México —, como o Haiti, onde a vida parecia ser vivida na frente das casas e nas ruas. Três anos após minha primeira viagem ao Haiti, percebi que havia outra nota emocional que precisava ser considerada: a cor intensa e vibrante destes mundos. A luz ardente e a cor intensa pareciam estar integradas às culturas sobre as quais eu começara a trabalhar, e eram completamente diferentes da reticência marrom acinzentada de minha experiência na Nova Inglaterra. Desde então, tenho trabalhado principalmente com fotografia colorida.

Não sou um fotógrafo documental nem um fotojornalista no sentido tradicional, e tenho trabalhado basicamente como fotógrafo de rua, explorando o mundo com a câmera e deixando que o ritmo e a vida das ruas conduzam e deem forma à minha obra. Para mim, tudo vem, primordialmente, das ruas. Os insights — sociopolíticos, culturais ou estéticos — que eu eventualmente tenho a respeito das sociedades que venho fotografando ao longo dos anos não vêm do preconceito, mas do processo de andar pelas ruas. Tenho a impressão de que as ruas podem ser uma espécie de termômetro que sinalizam as mudanças por vir. 

Ao longo do tempo, meu modo de ver em fotografia a cores, surgido nos trópicos, foi ganhando vários projetos e me levando não apenas a outras partes da América Latina e à África, mas também à Flórida e a Istambul. Tenho sido atraído a lugares de incerteza cultural e política — fronteiras, ilhas, margens das sociedades —, onde as culturas se misturam, por meio às vezes do confronto, outras vezes por meio da fusão.

Alex Webb

Alex Webb nasceu em São Francisco, EUA, no ano de 1952. O seu interesse pela fotografia nasceu enquanto estudante de liceu. Em 1972 frequentou o Workshop Apeiron de fotografia (em Millerton, Nova Iorque) onde conheceu Bruce Davidson e Charles Harbutt (fotógrafos da agência Magnum). Estuda História e Literatura na Universidade de Harvard e, paralelamente, fotografia no Carpenter Center for the Visual Arts (integrado na mesma universidade). Começa a trabalhar como fotojornalista em 1974 e apenas dois anos depois torna-se membro associado da Agência Magnum.

Webb é um dos fotógrafos de rua mais extraordinários do nosso tempo. A sua fotografia é marcada por cores fortes, jogos de luz e sombra e pela complexidade das suas imagens que se situam na fronteira entre a ordem e o caos: como se a adição de mais um elemento – qualquer ele que fosse – quebrasse a elegância e inteligibilidade da fotografia.

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